domingo, 24 de maio de 2015

Apesar da cor, O'Neil investe no contraste entre Lanterna e Arqueiro


Quando as aventuras espaciais começavam a ganhar força no mercado americano de quadrinhos, sobretudo por quadrinhos da Marvel como do Capitão Marvel e Warlock (criado em 1972 por Jim Starlin), a DC veio na contramão da tendência e fez do seu personagem espacial por excelência, Lanterna Verde, entrar de cabeça numa fase bastante pé no chão. Essa fase de seu título escrito por Denny O'Neil e desenhada por Neal Adams se tornou antológica e até hoje é reverenciada como um dos melhores momentos da editora em sua história.

Juntar Lanterna Verde, personagem que em razão de suas ligações cósmicas sempre encontrou dificuldades em se conectar com os problemas mais mundanos, e Arqueiro Verde para uma espécie de road-comic - espécie de variante para os quadrinhos dos road movies - se provou uma boa ideia. Juntos, a dupla esmeralda, acompanhada de um guardião do universo, percorre o interior dos EUA para ver mais de perto os principais problemas sociais que perturbam o país, dentre eles conflito racial, delinquência juvenil e poluição ambiental.

Como bem destacou Denny O'Neil no prefácio da edição lançada pela Panini em 2006, juntar Lanterna Verde e Arqueiro Verde não se deu em razão de ambos serem verdes, mas porque um significa quase a antítese do outro. De tão diferentes, a interação entre eles não teria como não ser interessante. Um é um guardião integrante de gloriosa tropa dos lanternas verdes e investido de um poder conferido por um anel mágico; o outro é demasiadamente humano e de tendências quase anarquistas, depende apenas de seus aguçados instintos humanos. Depois dessa improvável parceria, Hal Jordam passou a cada vez mais contestar as ordens dos guardiões da galáxia e soube que sua visão maniqueísta das coisas não funcionava no mundo atual.

Lógico que essa fase possui todos aqueles maneirismos típicos dos quadrinhos da Era de Prata e Bronze. Mas já é possível perceber uma subversão do padrão unidimensional das histórias que eram contadas na época. Essa tendência foi bastante presente durante a passagem de O'Neil e Adams pelo título do Lanterna Verde ao longo das 13 edições que durou. A revista já vinha passando por dificuldades antes da dupla assumir as história, mas essa abordagem diferente não foi suficiente para salvá-la.

Contudo, a história mais famosa dessa fase não foi publicada nesse primeiro encadernado. Em Green Lantern #85-86, a dupla esmeralda descobriu que o ex-parceiro de Arqueiro Verde, Ricardito (Speedy), tornara-se um viciado em drogas. Oliver e Hal se dispõe a derrubar os traficantes que forneceram a droga, mas eles logo descobriram que um CEO corrupto estava por trás de todo o comércio ilícito. Essa história ilustra bem o diferencial desse título em relação aos demais da época: muito mais do que lutar contra vilões fantasiados, eles combatiam a injustiça e a indiferença social. Uma luta quase perdida, mas que eles tiveram a ousadia de travar.

Grandes Clássicos DC: Lanterna Verde / Arqueiro Verde - Vol. 1
Green Lantern #76-82
**** 8,0
DC | abril de 1970 a março de 1971
Panini | março de 2006
Roteiro: Dennis O'Neil
Arte: Neal Adams
Arte-final: Dick Giordano, Frank Giacoia e Cory Adams

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