quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Os Melhores Quadrinhos de 2014 - Melhores capistas, edições avulsas e arcos


Chegamos à última parte da seleção dos melhores de 2014 do blog! Falaremos agora dos melhores capistas, melhores edições únicas e dos melhores arcos. 

Fazer capas de quadrinhos é uma peculiar e muito diferente de fazer as internas. O ofício exige uma especial inspiração do artista, de forma a apreender a história contada em seu interior, sem contudo revelar detalhes reveladores. A arte precisa ser reflexiva, interessante e curiosa. Quanto mais esse elementos se harmonizarem, melhor o trabalho fica. Mas alguns artistas empregam especial originalidade em suas composições, empregando em suas capas não apenas um sentido prefacial, mas também suplementar.

Melhores capistas

John Cassaday realizou isso como poucos em seu trabalho em Planetary. Todas as capas da obra são tão cheias de significado que é impensável pensar uma sem a outra. Cassaday abraçou com vigor a ideia de viagem pela cultura pop do século 20 em suas composições, ao passo que ora homenageiam os quadrinhos pulp (Doc Savage), ora as histórias de aventura do início do século 20 (Tarzan, Cavaleiro Solitário), bem como filmes de ação, ficção-científica (Matrix e 2001), e tantas outras referências que não fui capaz de identificar.

Completando o trio temos Jock, pelo seu trabalho em Escalpo (cuja publicação foi concluída esse ano pela finada mensal Vertigo), e David Aja (de Hawkeye). Ambos se valem de técnicas diferentes para composição de suas páginas, uma vez que, em razão de se tratarem de títulos bastante diferentes entre si, é evidente que enquanto um de vale de cores claras, com predominância do branco e vermelho (no caso de Aja), outro precisou criar um ambiente mais sombrio e decadente, onde se predomina a escala de cinza e vermelho. Jock foi além do óbvio em suas capas, de modo que continuamente convidava o leitor à reflexão. As capas de David Aja, por sua vez, possuem um design moderno e audacioso, coisa incomum nos quadrinhos de super-herói, em que privar as capas do personagem principal é algo impensável.






Melhores edições únicas

Acho que há pouca coisa mais revigorantes no costume de ler quadrinhos do que terminar de ler uma edição e ter vontade de dizer: "Uau, isso foi legal!". A satisfação de ler uma ótima história curta, ainda que dentro de um título regular, é maior do que ler um bom título mas que em nenhum momento empolga de verdade. Pode ser que a edição depois fique um horror, mas aquela experiência de ler algo realmente bom é insubstituível e, talvez, pode salvar toda uma série de histórias ruins.

Esse ano eu li muita coisa boa. Histórias que certamente merecem ser referenciadas, e que provavelmente foram (é só acompanhar nossos reviews). Mas dentre essas histórias, certamente, uma das que mais me marcou foi Abraço, de Neil Gaiman e Dave McKean, publicada em Hellblazer #27. Nessa história fechada - que eu li em Dias de Meia-Noite (que saiu pela Panini ano passado) mas que também consta no volume 5 de Hellblazer Origens -, Constantine se depara com a manifestação sobrenatural de uma das necessidades mais humanas que existe: o afeto. É uma das aquelas histórias que terminam com um soco no estômago do leitor. Algo como: lide com isso, agora.

No prefácio de Gaiman para a história, que está presente em Dias de Meia-Noite, ele reconhece que se trata de uma de suas obras favoritas, que ele mais tem orgulho de ter participado. Junto com a arte de McKean e as cores de Danny Vozzo (que também trabalhou em Sandman), a obra ficou definitivamente única.



Também foi destaque em 2014, não só na minha lista de leitura pelo jeito, Hawkeye #11, Pizza is my Business, que levou o Eisner de melhor edição única esse ano. Por incrível que pareça, o personagem principal não foi o Gavião Arqueiro, mas sim seu cachorro, Lucky (Sortudo), resgatado pelo herói dos maus tratos que ele sofria da máfia russa. É sempre bom quando existe uma sinergia entre roteirista e artista, de forma que ambos os fundamentos alcancem a excelência. Com Matt Franction e David Aja ocorreu assim.

Ramadã, publicada originalmente em Sandman #50, fecha essa lista. Bagdá nunca foi tão lindamente retratada na ficção como Neil Gaiman e P. Craig Russell fizeram, fazendo jus a fama de que Bagdá talvez tenha sido a cidade mais linda já construída ao longo da história. Ramadã mistura quadrinhos, literatura, história de maneira incrível. Quase não dá pra perceber as quase 50 páginas de leitura. Ao final, sobra um gosto amargo, ao refletir sobre a situação atual do Iraque.

Melhores arcos

Sim. Já está batido eleger Sandman pra tudo. Mas não há como negar que o volume 3 da edição definitiva da obra lançado pela Panini compila o ponto alto da série, que já é ótima praticamente em todas as edições. Ainda me falta concluir a obra (o volume quatro já está quase tendo a sua vez em meio a minha pilha de leitura), mas já dá pra afirmar que Vidas Breves elevou ainda mais a qualidade da série. Colocando um toque de drama familiar no relacionamento entre os Perpétuos, a série ganhou uma nova dimensão, um vasto terreno a ser explorado. Coisa que Gaiman fez muito bem. As nove edições que compões o arco (#40-49) jogam luz em diversos mistérios relacionados aos Perpétuos, sobretudo sobre Delírio, que se mostrou menos perigosa que Desejo.

Corrigan II é o arco de encerramento de Gotham City Contra o Crime. Quem achava que a saída de Ed Brubaker da série (o escritor tinha ido para a Marvel) poderia significar a derrocada da série, se enganou. Greg Rucka só não fez um encerramento à altura da qualidade de toda a série, como também soube quando parar. A DC tinha intenção na época de continua-la, mas Rucka se manteve firma a decisão de que a série acabava ali, para a sorte (ou azar) o nosso.

Até a conclusão de Até o Fim do Mundo, Preacher era uma das coisa mais legais que eu já tinha lido. Garth Ennis e Steve Dillon produziram um início de série de fôlego, de ritmo vertiginoso e de impacto. Esse arco mostra o reencontro de Jesse Custer com a sua sádica família, apresentando um dos personagens mais repulsivos da HQ, Marie L'Angelle, avó de Custer.

Preacher - Vol. 2: Até o Fim do Mundo [Panini, 2012]


Imagino como deve ter sido difícil na época do seu lançamento ler edição por edição, precisando esperar um mês para ver a continuação dos ganchos ao final. O leitor brasileiro passou por isso durante a publicação da série pela Brainstore, que ainda por cima não concluiu, interrompendo a série faltando apenas seis edições. Nós fomos ver a conclusão da série saindo por aqui somente em 2011, pela Panini.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sandman!*-*